quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Vigília

Como seria enterrar um pai?

Ter seu falo morto balouçando sobre o corpo grosso.
Seus pés firmados no sem-fim,
Seus dedos bebendo das estrelas,
Suas mãos abrigando o silêncio do peito,
escondendo,
como que temerosas,
o estômago inútil.
Seus olhos abertos para si,
num mergulho profundo no nenhum,
enxergando o inominado?

Como seria enterrar um pai
com estas minhas mãos de Antígona?
Como seria o meu sepulcro, atrás de uma pedra?
Ser engolida por uma caverna?

Como seria (eu mesma) morrer?
A resposta brilha simples numa carne sem mistérios:

Seria,
e certamente seria,
como enterrar o meu pai.