sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Onde o espelho?

                                   Para minhas irmãs negras
                        
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha,
é o simulacro infeliz do que não és.

(Ao vestir-se com a pele do inimigo
o que de ti silencia e se perde?
Quantos animais conheces
que assim o fazem senão para reagir?)

Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.
Veste-a como um manto impuro
abafando o preto caracolado
sobresi dobrado:
filosófico.

Os fios se endurecem como cavalos açoitados,
e bradam da morbidez desta couraça
que te mascara branca.

Este cabelo requeimado e grotesco
sepulta o que em ti há de mais belo.
A dobra também é uma forma
de Ser.

Um comentário:

  1. Quando meu amor lava o cabelo
    A negra deixa-me em transe;
    É tanto produto no ritual,
    Tanta essência escorre
    Daquela cascata resistente.
    Ao final sou a oferenda
    Para a deusa que ela evoca
    Desde as raízes capilares da sua história,
    Da sua fé nas gerações...
    A piastra importa a lembrança do ferro quente
    Que marcou, aprisionou e aqueceu a gente;
    Desliza-o no pelo, quizombando,
    Quando na pele, antes, ardia.
    Era um inferno.

    Quando minha negra lava o cabelo
    É um dia perdido?
    -Que ódio?

    -Oh dia divino!
    -Oh dia eterno!


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