quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pequena Canção da Vigília

Sem nilimentos e a vida à toda
o sono tem sido firme como um outro acordar:
um cão de plumosa ira a roer meus calcanhares,
um sol de luz intensa a profanar os breus de mim,
um vento contra o qual eu ando como quem luta
                     com o que não vê.

Tenho dormido sem sonhos e acordado verdadeira.

Quando fecho os olhos exaustos de ser,
a porta maciça revela-se intransponível
e descubro desemparada que,
mais que as chaves, perdi as fechaduras
e não há janela de tramela inocente,
nem buraco indecente
                 por onde lamber a névoa densa do sonho.

Mais que a dor, a noite passa e o dia rasga,
com seu falo inconsútil, as tramas da cortina.

Sobrevivo à noite e a aurora dança crua sobre a terra.