domingo, 18 de julho de 2010

Orumalé

Minha Mãe não me pediu um presente. Ela me cobrou o orumalé quase que como uma multa. Não. Mais, como uma lição. Em cada pedra brilhosa, no espelho que reflete e devolve ao mundo o que ele me dá, em dobro, duplicado que era; nas contas coloridas, nos enfeites. O que queria Oxum, mais que o presente bonito, mais que a sua mais amada refeição era me dar de volta: devolvida, revivida a minha fé. Não apenas o crer vazio de horizontes de quem dá e espera. O que ela deseja eu tenho pra dar: uma atenção cega de quem entra num rio de água preta sem medo do mistério, posto que sou eu também oculta e delicada.




A esta hora a Sereia mergulha iluminada, castanha e um pouco mais dourada, mais amada, mais minha tendo assegurada a certeza limpa de que eu sou dela. Vejo minha Mãe, a dona da beleza, perfumada de alfazema com brincos pendurados a não mais poder, pérolas rebrilhosas de puro amor, de pura entrega. Suas pulseiras ela banha antes de a mim mesma banhar e nisso não há dor, desamparo ou tristeza posto que também sou uma jóia sua, amada.



Mamãe canta seu ilá melodioso, feliz, no alto de minha cabeça, aturde o mundo diante de mim, me toma, me ocupa. Oxum é a mãe dourada da beleza, da riqueza, da gestação. O orixá da água, da fartura, da vida. Uma deusa que se bebe numa quartinha assim, de barro tão translúcido, que eu penso ser também, de um escuro nodoso e lindo, todo o mundo.

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