sexta-feira, 30 de julho de 2010

Irmanados

Sua palavra era uma só: vento que não fazia curva, faca pura lâmina atravessando minha carne. E eu sangrando. Sua palavra, uma, só. Muitas vezes me matou. Uma só, quando dizia me amar. Uma, quando me chamava pelos apelidos mais delicados e a mesma, quando meu nome inteiro e frio luzia triste entre seus dentes raivosos. E minha carne sangrando. Quando pequeno suas mãos sempre um tanto trêmulas destrinchavam brinquedos desfazendo-os de seu encanto frágil para saber apenas como funcionavam, sem jamais conseguir devolver a eles nem sombra pálida de sua vida. A mim, me desmonta como a uma boneca de juntas duras, daquelas baratas. Tão fáceis de remontar. Mas suas mãos, também de lâmina aguda, quanto mais buscam me devolver as penas e os braços, vão me ferindo tanto, e de tantas formas, que não há, em milímetro algum de minha pele triste, marca ou dor que com ele eu não possa compartilhar.

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