sábado, 18 de julho de 2009

Tecendo o manto

Meu amor vai viajar.

Arrumei-lhe as malas, montei enxoval novinho, lavei suas roupas: ele vai.

E o ir, independente do certeiro voltar, abre flancos imensos na minha cama de lençóis estranhos - precipícios, por onde mergulharão meus olhos e meu sono.

Há corpo faltando no espaço vazio: meu obstáculo amoroso que abriga e aquece. Falta um respiro que já sei, quando cansado; falta a palavra que passeia distraída pela casa buscando meus ouvidos obsedados de silêncio; as roupas a repousarem nos lugares errados; as meias como línguas pretas saindo dos sapatos e lambendo o chão.

Falta um alisar de barriga na fome e um fechar de olhos na saciedade.

Ele vai, mas ele volta. Chamarei todos os dias o seu nome no mais profundo do meu segredo.

Dia há, marcado para seu retorno. Ele vai e volta.

Mas algo há, entre os lençóis frios e a minha boca silente, que faz com que ele permaneça. Ulisses sempre redivivo, sempre Rei, amorosamente onipresente em mim.

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