segunda-feira, 6 de abril de 2009

Do instinto como estratégia

Um rio não planeja, submisso à possibilidade da terra, os caminhos por onde, em riacho, ele irá abrindo caminho para sua água caudalosa.

Com isso, afirmo, ora ciente, diante dos inúmeros tabuleiros que a vida coloca ante a mim, que não sei jogar. Se jogo é estratégia, planejamento, antecipação, capacidade de olhar o outro como inimigo, oponente, obstáculo: não sei jogar.

Isso às vezes me destrói. Me espanto com a quantidade de gente que joga, delibaradamente, com tudo. Diante de si, amizades negócios, uma cerveja gelada na esquina, uma confissão: tudo é jogo.

Eu, por meu turno, já tentei, e muito, e sempre perco: xadrez, dama, truco, paciência...até diante do computador as regras do jogo me parecem mistérios insolúveis que, apenas, adiam a cena que, a mim, mais me importa: o momento em que, findo o jogo, cessam as cartas de rolar sobre a mesa e nos sobram as duas mãos vazias.

A regra primordial do meu jogo é a minha intuição, é o meu afeto. Com os ouvidos herdados de meu pai, um imponente caçador, ausculto os sons que vêm da floresta fechada, atiro certeira flecha que, no momento certo, alcançará o alvo, crendo, como muito se diz na minha terra, que tudo deve ser entregue à Divindade maior: o Tempo.

Quando olho em volta, vejo jogadores de olhos tristes, cegos ao caminho óbvio, do amor aberto e puro que nos atravessa. E ante tantas estradas que nos levam ao cerne que brilha no coração do outro, os jogadores caminham sozinhos pelos atalhos escuros onde a luz não penetra.

E não entendem que, às vezes, mesmo quando se ganha, se perde.

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